Então

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Jorge Luis Borges — O Nosso



O Nosso

Amamos o que não conhecemos, o já perdido.

O bairro que já foi arredores

Os antigos que não nos decepcionaram mais

porque são mito e esplendor.

Os seis volumes de Schopenhauer que jamais terminamos de ler.

A saudade, não a leitura, da segunda parte do Quixote.

O oriente que, na verdade, não existe para o afegão, o persa ou o tártaro.

Os mais velhos com quem não conseguiríamos

conversar durante um quarto de hora.

As mutantes formas da memória, que está feita do esquecido.

Os idiomas que mal deciframos.

Um ou outro verso latino ou saxão que não é mais do que um hábito.

Os amigos que não podem faltar porque já morreram.

O ilimitado nome de Shakespeare.

A mulher que está a nosso lado e que é tão diversa.

O xadrez e a álgebra, que não sei.

Jorge Luis Borges

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